O autoconhecimento, parte complementar da inteligência emocional, é a compreensão profunda que uma pessoa possui sobre si mesma, abrangendo emoções, desejos, impulsos, princípios e limites.͏ Esta͏ exploração reflexiva é essencial ao longo da vida, mas torna-se significativa à medida ͏que envelhecemos.͏ ͏Nos adultos mais velhos, ͏o autoconhecimento pode servir como um recurso valioso na promoção do contentamento, da realização e da resiliência em resposta às transformações relacionadas com o envelhecimento.
“Busco-me e não me encontro (…) Devo fazer da minha alma uma coisa decorativa. Não sei que detalhes demasiadamente pomposos e escolhidos definem o feitio do meu espírito. O meu amor ao ornamental é, sem dúvida, porque sinto nele qualquer coisa de idêntico à substância da minha alma.”, Fernando Pessoa (Bernardo Soares), Livro do Desassossego.
Autoconsciência e a gestão da mudança
À medida que envelhecemos, lidamos com diferentes mudanças e adversidades, como a reforma, mudanças na saúde e na vida social, mudança dos filhos (o “síndrome do ninho vazio” como é vulgarmente conhecido) e a perda͏ de entes queridos. Todas as mudanças ͏podem trazer desconforto e, sem uma forte ͏autoconsciência, ͏levar͏ à ͏insegurança e ͏à confusão. Mas aqueles͏ com profunda autoconsciência veem essas͏ transições como oportunidades de crescimento ͏e satisfação pessoal.
A autoconsciência é a chave para compreender as nossas emoções e reações, abrindo o caminho para uma gestão eficaz do stresse e da ansiedade. Quando reconhecemos o que sentimos, podemos descobrir o que funciona melhor para nós em tempos difíceis – afastando-nos de comportamento destrutivos ou desadaptativos e, em vez disso, nutrir a resiliência. E não esqueçamos que esta visão sobre nós desempenha um papel na construção de melhores comunicações uma vez que estamos cientes do que nos motiva ou agrada (e do que nos irrita).
O autoconhecimento tem outra faceta crucial: reconhecer e valorizar os próprios valores e prioridades. Quanto mais velhos ficamos, mais importante é concentrarmo-nos no que realmente importa na nossa própria vida. As pessoas que possuem um alto nível de autoconhecimento tendem a tomar decisões que ressoam em concordância com os seus valores fundamentais num nível mais profundo, o que, por sua vez, abre caminho para uma existência mais enriquecedora e significativa.
A vida é uma questão de escolha
A vida é uma questão de escolha – escolha sábia com base em quem somos e no que valorizamos. Além disso, o autoconhecimento promove a autoaceitação e a autocompaixão. À medida que envelhecemos, é comum enfrentarmos perdas e limitações. Ter uma visão clara e compassiva de nós mesmos ajuda-nos a aceitar estas mudanças com facilidade, permitindo-nos envelhecer de forma mais positiva. Aceitar as nossas fraquezas e imperfeições, aliado à valorização dos nossos pontos fortes e conquistas, contribui para um forte sentido de identidade e uma autoestima saudável.
Mas… e como me conheço?
A jornada do autoconhecimento é única e individual, mas existem diversas ferramentas que podem auxiliar nesse processo:
- Reflexão pessoal: reservar momentos para refletir sobre o dia a dia, o momento presente, os pensamentos automáticos, as nossas emoções primárias e secundárias, os sentimentos e experiências passadas é fundamental para o autoconhecimento.
- Terapia: o acompanhamento com um profissional, como um psicólogo, pode ser extremamente útil para aprofundar o autoconhecimento e lidar com desafios específicos.
- Relações sociais / Grupos de apoio: participar em grupos de apoio com amigos ou outras pessoas da mesma faixa etária, pode ser uma fonte de troca de experiências e aprendizagem valiosas para o nosso próprio conhecimento.
- Leitura: livros e artigos sobre desenvolvimento pessoal e autoconhecimento podem oferecer reflexões e inspirações para esta jornada.
- Práticas de mindfulness: técnicas como meditação e yoga podem promover o autoconhecimento através da atenção plena no presente e da conexão entre o corpo e a mente.
Em suma, a autoconsciência é uma ferramenta essencial à medida que envelhecemos, proporcionando uma base sólida para enfrentar os desafios do envelhecimento. Promove resiliência, satisfação pessoal, saúde mental e física e a capacidade de viver uma vida consistente com nossos valores. Portanto, incentivar a autoconsciência nesta fase da vida é um investimento valioso no bem-estar e na qualidade de vida em todas as fases da vida.