Vivemos atualmente numa geração/mundo altamente dinâmico, em constante alteração e mudança, onde é quase que obrigatório termos alguma capacidade de adaptação para singrar. Neste sentido ouvimos muitas vezes que devemos ser resilientes, mas o que significa resiliência?
O que é a resiliência?
A resiliência é um processo e resultado de uma adaptação bem sucedida a diferentes experiências de vida difíceis ou desafiantes, recorrendo especialmente a flexibilidade cognitiva, emocional e comportamental e ao ajustamento de exigências externas e internas (American Psychological Association, 2018).
E, quanto mais resilientes somos, mais fácil é gerir diferentes desafios e problemas que surjam. E estamos constantemente debaixo desta necessidade de enfrentar desafios. Por exemplo, desde jovens a aprender a adaptar para as diferentes fases, desde o ingresso na escola, à alteração para o mercado de trabalho, para a parentalidade, para a reforma, etc..
Assim, para sermos resilientes é necessário desenvolver também um conjunto de competências (quase que “motores”), que são, impreterivelmente transversais a todos os contextos de vida. Sendo duas: a inteligência emocional e o autoconhecimento.
Inicialmente, ambas as competências referidas podem ser pensadas da seguinte forma: “mas isto para mim não é importante, as minhas emoções nada têm a ver se eu resolvo os meus problemas, nem vão ditar o meu futuro”, apesar de isto ser um pensamento comum é falacioso.
As nossas emoções que estão intrinsecamente conectadas aos nossos pensamentos, são o nosso “combustível” consciente para a resolução de problemas, neste sentido, o que sentimos altera/impacta os nossos pensamentos e ações, por isso tantas vezes dizemos: “estava zangado e disse o que queria e não queria”.
Autoconhecimento
Deste modo, inicialmente devemos conquistar o autoconhecimento, a capacidade de sabermos quem somos, retirando todos os rótulos que nos envolvem (idade, género, trabalho, educação, família, religião, …), sabermos o que gostamos e não gostamos, saber o que nos deixa extremamente felizes e extremamente irritados ou tristes, e, acima de tudo sabermos o que queremos.
Quando temos um objetivo e sabemos o que queremos, temos um dos primeiros passos para agirmos e o cumprirmos.
As melhores formas de desbloquear esta, por vezes simples, mas enorme barreira é conseguirmos ser honestos introspectivamente, refletindo regularmente, estar atento às nossas sensações corporais em diferentes situações, procurar significado e coisas que nos façam sentido e preencham. É um processo longo e extenso, que é quase, como antigamente, quando pegamos num mapa (daqueles comprados numa bomba de combustível) e tentamos de mil e uma formas para perceber o rumo que devemos seguir.
Inteligência emocional
Por outro lado, a inteligência emocional é um dos diferentes tipos de inteligência que existem e refere-se à capacidade de reconhecer as nossas emoções e do outro, compreender, processar e gerir informação emocional e usá-la de forma adequada junto de outras competências cognitivas (APA, 2018).
A inteligência emocional tem também alguns pilares, nomeadamente a:
- Autoconsciência – a capacidade de compreender as nossas emoções primárias (tristeza, alegria, nojo/repulsa, medo e raiva), emoções secundárias e terciárias bem como os nossos sentimentos;
- Autogestão/autocontrolo – a capacidade de controlar impulsos e comportamentos, mantendo um estado de consciência e de reflexão sobre os diferentes aspectos internos e externos que nos envolvem;
- Consciência social – a capacidade de reconhecer, compreender e ler as emoções dos outros;
- Relações interpessoais – o desenvolvimento de relações com significado, sustentadas numa comunicação positiva e eficaz (que não seja constantemente passiva, agressiva ou manipuladora), permitindo a gestão e resolução de problemas e conflitos.
Neste sentido, para nos adaptarmos à mudança e sermos resilientes é em grande parte necessário sabermos quem somos – autoconhecimento – e gerir o que sentimos individualmente e coletivamente – inteligência emocional – juntas, estas competências permitem potenciar a capacidade de enfrentar desafios e aproveitar oportunidades de crescimento.
Resiliência e preparação da transição para a reforma
Quando refletimos sobre este assunto, especialmente com um olho para a reforma, percebemos que muitas vezes quando a pessoa se reforma não se conhece verdadeiramente e não sabe o que gosta, o que quer ou sequer que emoções tem sobre o assunto. Começar a analisar o que gostamos e planear antecipadamente permite uma transição mais confortável para a reforma.
Iniciar um processo de autoconhecimento e analisar e compreender as nossas emoções e da nossa família e amigos, por exemplo (que faz parte da inteligência emocional) é um dos primeiros passos para perceber se o que vimos no nosso contexto familiar, é o que gostaríamos de fazer, se gostaríamos de alterar algo e o que é efetivamente possível é uma das principais estratégias para manter um estilo de vida ativo e saudável.
Estas competências podem ser ainda mais importantes nesta fase de transição para uma nova fase com tanto tempo livre, algo que nunca existiu antes. Prepararmo-nos para a reforma com estas competências em mente pode não só facilitar a adaptação a uma nova realidade, mas também enriquecer a vida com novas oportunidades de crescimento e satisfação pessoal.