A alucinação está associada a alterações nas funções do cérebro que podem ser, ou não, induzidas ou condicionadas pelas demências. As alucinações são causadas por alterações no cérebro que podem levar a pessoa a ver, ouvir, sentir ou provar algo que não existe na realidade. Isto acontece porque o cérebro distorce ou interpreta mal os sentidos. Apesar de estas perceções não serem verdadeiras, as visões são muito reais para quem as vivência. Saber como lidar com alucinações é fundamental para dar conforto ao idoso, respeitando a sua condição de saúde e garantindo uma relação saudável com o cuidador.
Algumas alucinações podem ser verdadeiramente assustadoras, outras podem envolver visões de pessoas do passado ou objetos. Também é comum “ver” insetos e outros bichos, pessoas que se escondem atrás de cortinas, portas e janelas que se abrem para o exterior, crianças que correm pela casa, …
Se a pessoa tem alucinações, não há nada que possa dizer que a convença do contrário. O cérebro está a dizer-lhe que tudo o que vê e sente é real.
Quando as alucinações são particularmente negativas e assustadoras, o idoso pode ficar ansioso, com medo, ou suspeitar que o seu cuidador é conivente com os “estranhos” que teimam em permanecer em casa. Então, é essencial saber lidar com estes episódios. As alucinações podem ser provocadas por demência, sendo mais comuns na demência de Lewy Body e Parkinson. Contudo, também podem surgir na doença de Alzheimer e noutros tipos de demência.
10 Maneiras de lidar com alucinações em idosos
Perante um adulto com alucinações, o mais importante é validar a sua experiência, responder aos seus sentimentos e mantê-lo seguro. Abaixo encontra algumas estratégias que o vão ajudar a saber como lidar com alucinações.
1. Determine se é hora de agir
Quando se cuida de uma pessoa com demência, a primeira coisa a ter presente é que as alucinações podem surgir; é parte da doença. Depois, importa aferir se as alucinações estão a interferir na qualidade de vida e na segurança da pessoa.
As alucinações levam o idoso a assumir comportamentos perigosos para si próprio ou para outros? Nesse caso, pondere se deve intervir rapidamente, mas com calma e cuidadosamente, para lhe dar conforto ou para desviar a atenção para uma atividade segura.
2. Manter a calma, não discutir e não contradizer
Se estiver perante alguém com alucinações mantenha a calma, não discuta, não se exalte, não entre em luta de argumentos, não contradiga nem tente usar a lógica para o convencer que o que vê, ouve ou sente não é real. Se entrar em conflito, só o deixará a si agitado e ao idoso inseguro e irritado. Não esqueça que as alucinações são muito reais para quem as vive.
Tentar explicar que não é real, que não existe, nunca funcionará, porque o cérebro perdeu a capacidade de distinguir o mundo real da fantasia.
Ouça com atenção o que lhe diz o idoso. Tente entrar na sua cabeça e nas suas visões. Mostre interesse e compreensão. Não perca a calma e lembre-se de que as alucinações podem ser verdadeiramente assustadoras.
3. Transmita confiança e nunca desvalorize a experiência ou os sentimentos
Saber lidar com alucinações também é respeitar aquilo que o outro sente. Nunca desvalorize aquilo que a pessoa está a ver ou a sentir. Não trate o adulto como se fosse uma criança que não percebe o que está a acontecer. Se negar as visões, é muito provável que a pessoa fique chateada e que perca a confiança em si.
Se acolher o que lhe é dito, isso irá ajudar a que o idoso partilhe consigo aquilo que está a ver e a sentir. Sentir-se-á, por isso, mais seguro e protegido.
Seja gentil, responda ao sentimento e não ao teor da alucinação. Use uma linguagem dócil, um tom de voz baixo, não discuta, não se exalte. Lembre-se que a alucinação é parte da doença e que ambos têm que aprender a lidar com a situação de forma ligeira.
Não precisa fingir que está a ver ou a ouvir, mas apoie e faça o que puder para aliviar sentimentos de medo, ansiedade ou insegurança.
Por exemplo, pode dizer “Não vejo ninguém nas escadas mas parece que algo o está a incomodar. O que posso fazer para o ajudar a sentir-se melhor?”
4. Observe o ambiente envolvente e elimine eventuais gatilhos
Por vezes, as alucinações podem surgir perante certos eventos. Determinadas circunstâncias fazem com que as visões se formam no cérebro para ajudar a interpretar o que está a acontecer. Algumas perguntas que o podem ajudar a situar-se:
Que estímulos visuais ou sonoros existem no local onde a pessoa está? Em que momentos se intensificam as alucinações? Em que momento do dia são mais comuns? Aparecem associadas a alguma rotina específica? Quando estão com alguém em particular? Depois de visitar um determinado sítio? Quando assiste a um certo tipo de programa da televisão? Quando entram numa divisão escura da casa? Sombras? Depois de uma consulta? Quando passam por um espelho?
Se conseguir detetar padrões ou estímulos ambientais, terá mais hipóteses de os alterar, evitando perturbações.
5. Ofereça respostas simples e garantias
Não se preocupe em dar longas explicações sobre aquilo que a pessoa vê ou sente com a alucinação. A lógica não funciona aqui. Se tentar processar o que lhe está a dizer pode mesmo ter o efeito de aumentar a ansiedade e insegurança.
Em alternativa, responda de forma calma e solidária. Pode dizer algo como “Não se preocupe. Estou aqui ao seu lado. Vou garantir que fica seguro.” O contacto físico e a demonstração de afeto também podem ajudar a fazer com que a pessoa se sinta aconchegada e tranquila.
6. Procure padrões
Quando as alucinações são frequentes, pode haver um gatilho que não é óbvio.
Uma forma de descobrir o que pode estar a causar as visões é enumerar as atividades e tentar encontrar um padrão.
Fazer anotações ou manter um diário pode ser muito útil para tentar relacionar certos eventos com determinadas alucinações. Por exemplo: a que horas do dia são mais intensas? Estarão ligadas a uma necessidade física (como usar o WC), ou a um episódio de dor?
A mudança das rotinas diárias, conhecer uma pessoa nova, situações/ acontecimentos inesperados ou a insegurança perante alguma coisa ou alguém, também podem dar origem a uma crise.
7. Distrair e redirecionar a atenção
Outra estratégia para lidar com alucinações é desviar a atenção para outra coisa. Distrair a pessoa com uma atividade ou para um outro detalhe pode ajudá-la a focar a mente numa situação diversa. Faça contacto visual, converse, tente compreender os sentimentos.
Tente fazer alguma coisa que a pessoa aprecie: cozinhar, fazer um quebra-cabeças divertido, ouvir música, ler, ver televisão, fazer exercícios de relaxamento, dançar, dar um passeio, fazer uma festinha à mascote, … Não precisa de tarefas altamente elaboradas, apenas aquelas em que a pessoa se sente bem, que lhe tragam prazer e bem-estar.
8. Peça ajuda
Cuidar de alguém com alucinações pode ser muito desgastante e causar muitas dúvidas sobre como proceder. Por isso, se estiver a lidar com este tipo de situação, e sentir que está no seu limite, procure ajuda.
Manter a calma é essencial para cuidar e não o poderá fazer se estiver em desequilíbrio. Todos nós, em algum momento nos sentimos assoberbados. Reconhecer que se precisa de ajuda é apenas humano e o início de uma jornada mais gratificante para quem cuida e para quem é cuidado. Não deixe de cuidar da sua própria saúde mental.
9. Informe-se junto do médico
Na maioria dos casos, a pessoa com demência é acompanhada por um médico. Não deixe de partilhar com ele as suas dúvidas, de pedir a opinião e estratégias para lidar com as alucinações.
Quanto mais bem informado estiver sobre a condição de saúde, e o que ela implica, melhor preparado se sentirá para lidar com a situação. Se estiver seguro e calmo, isso irá refletir-se na pessoa que está ao seu cuidado.
Por outro lado, alguns problemas médicos podem causar alucinações como a desidratação, infeções urinárias, infeções renais ou da bexiga, ferimentos na cabeça devido, por exemplo, a uma queda ou dor.
Alterações na medicação também podem ter um efeito secundário negativo, tal como a interação com outro medicamento. Esteja atento e converse com o médico se notar alterações comportamentais no caso de alteração da medicação.
10. Quando procurar ajuda especializada?
Nas situações em que as alucinações provocam angústia e tristeza, ou levarem a que pessoa tenha comportamentos que a coloquem em risco a si própria ou a terceiros, procure ajuda média imediata.
Descreva os sintomas, com que frequência ocorrem e se mudaram de intensidade ou frequência ao longo do tempo. Se mantiver um registo, será mais fácil detetar alterações e padrões de comportamento.
Cabe ao médico sugerir alterações na medicação. Não o faça por iniciativa própria e sem consultar o especialista.