Na população idosa, a demência e outras doenças ou efeitos de medicamentos que afetam a função cerebral (medicamentos psicoativos e opioides), podem arrastar sintomatologia psicótica, isto é, alterações do pensamento com atividade delirante. O delirium é um estado mental anómalo, não uma doença.

Apesar de o termo ter uma definição médica exata, utiliza-se, muitas vezes, para descrever qualquer tipo de confusão. No entanto, delirium, delírio e demência, não são a mesma coisa: o delirium afeta principalmente a atenção, o delírio é uma manifestação de cariz psicótico e a demência afeta principalmente a memória.

O delirium é uma perturbação súbita, flutuante, e geralmente reversível da função mental. É um estado confusional agudo com causa orgânica, por exemplo uma infecao urinária, renal ou respiratória. É caracterizado por uma incapacidade de prestar atenção, desorientação, incapacidade de pensar com clareza e flutuações do nível de alerta (consciência). Muitas vezes confundido com demência, dadas as suas características, é um estado mental que se resolve quando se ultrapassa o quadro infecioso que lhe deu origem.

Causas do delirium

De modo geral, as causas mais comuns desta alteração do estado mental são as seguintes:

  • Medicamentos, particularmente medicamentos com efeitos anticolinérgicos, medicamentos psicoativos e opioides;
  • Desidratação;
  • Infeções, como pneumonia, uma infecção da corrente sanguínea (septicemia ou sepse), infeções que afetam todo o corpo ou provocam febre e infeções do trato urinário (infeções que podem afetar o cérebro indiretamente);
  • Insuficiência renal;
  • Insuficiência hepática;
  • Baixo nível de oxigénio no sangue (hipóxia, como pode ocorrer na pneumonia), especialmente quando a doença começa repentinamente e progride rapidamente;
  • Deficiência de tiamina (Vitamina B1) e/ou vitamina B12 (vitaminas responsáveis, também, pelo bom funcionamento do sistema nervoso).

Outras causas incluem hospitalização, cirurgia, abstinência de um medicamento que foi tomado por um longo período de tempo, determinadas doenças e intoxicações.

O delirium na pessoa adulta mais velha

O delirium pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais comum entre pessoas de idade avançada – nas pessoas mais jovens, esta alteração mental pode dever-se ao uso de medicamentos ou a uma doença com risco de vida.

Muitas vezes, o delirium indica um problema de saúde grave, geralmente recém-desenvolvido, e exige cuidados médicos imediatos. Se a sua causa for identificada e corrigida rapidamente, geralmente, é possível a cura.

O delirium também pode ser consequência de doenças menos graves em idosos ou em pessoas cujo cérebro tenha sido afetado por um acidente vascular cerebral, demência, doença de Parkinson ou dano cerebral devido a outra doença. Alguns quadros clínicos menos graves que podem desencadear o delirium incluem:

  • Doenças não graves (como uma infeção do trato urinário);
  • Obstipação intensa;
  • Gripe (infeção que pode afetar o cérebro indiretamente);
  • Pneumonia (infeção que pode afetar o cérebro indiretamente);
  • Dor;
  • Uso de catéter de bexiga (um tubo fino utilizado para drenar a urina da bexiga);
  • Desnutrição;
  • Imobilidade;
  • Privação prolongada do sono;
  • Privação sensorial (pessoas que vivem socialmente isoladas ou sem acesso a óculos ou suportes auditivos necessários, por exemplo).

Contudo, em algumas pessoas, o diagnóstico pode ser difícil, não se chegando a identificar nenhuma causa.

O delirium ocorre mais frequentemente em pessoas idosas, em parte porque algumas mudanças relacionadas com a idade no cérebro as tornam mais suscetíveis. Por exemplo, as pessoas idosas tendem a ter menos células cerebrais e níveis mais baixos de acetilcolina (substância que permite que as células do cérebro comuniquem entre si). Qualquer stress (devido a um medicamento, doença ou determinada situação), que faça com que o nível de acetilcolina diminua ainda mais pode tornar mais difícil o funcionamento do cérebro. Assim, em pessoas idosas, o stress é particularmente propenso a causar delirium.

Tratamento

O delirium e a hospitalização que geralmente é exigida podem causar muitos outros problemas, como desnutrição, desidratação e úlceras de decúbito. Esses problemas podem ter consequências graves nas pessoas idosas. Assim, o tratamento pode envolver uma equipa interdisciplinar que inclua um médico, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, enfermeiro e assistente social.

Prevenção do delirium no adulto mais velho

Para ajudar a evitar delirium numa pessoa mais velha o cuidador e os membros da família podem:

  • Prevenir o surgimento de infeções;
  • Incentivar a pessoa a deslocar-se regularmente;
  • Colocar relógios, calendários e fotografias dos familiares no quarto para ajudar na orientação;
  • Minimizar as interrupções e os ruídos durante a noite;
  • Certificar-se de que a pessoa come e bebe o suficiente;
  • Manter o ambiente tão tranquilo quanto possível.

O cuidador e os familiares podem falar com a pessoa e, assim, ajudá-la a manter-se orientada. As pessoas com delirium podem ter medo, e a voz familiar do cuidador ou de um membro da família pode ter um efeito calmante.

A maior parte das pessoas com delirium recupera totalmente se a causa for identificada e tratada com prontidão. Qualquer atraso diminui a possibilidade de uma recuperação total. Ainda assim, durante o tratamento, alguns sintomas poderão persistir durante semanas ou meses, e a melhoria pode ser lenta. Em algumas pessoas, a confusão mental evolui progressivamente para a disfunção crónica do cérebro, semelhante à demência.

 

 

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