“… faço como gostaria que me fizessem.” Por favor, não faça!

São inúmeras as vezes que, ao falarmos com cuidadoras e assistentes pessoais, ouvimos esta frase. A intenção é boa, é muito boa, e pura. Querem transmitir a mensagem que tratam bem do outro; que valorizam aquela pessoa e que a estimam. Mas, de facto, quando cuidamos ou assistimos, não devemos tratar o outro como gostaríamos de ser tratados. Porque quando assim é, os seus gostos e preferências não são tidos em conta; a sua história não é valorizada; a pessoa que é não tem lugar.

Assisto aquela pessoa como ela quer ser assistida

Esta é a primeira mensagem que reconstruímos junto da nossa equipa. E só há um limite entre aquilo que fazemos com a pessoa e aquilo que a pessoa faria sozinha: o da legalidade! Se for legal e a pessoa quiser fazer, mesmo que eu, por mim, não fizesse, juntos fazemos. 

Somos mais tolerantes e respeitamos o espaço do outro quando assistimos a pessoa como ela quer ser assistida. E, por isso  mesmo, é possível jardinar mesmo que chova ou faça frio e usar 5 folhas ao mesmo tempo para fazer uma pintura; é possível tomar banho à hora de preferência com água mais quente ou mais fria; dizer o calão que sempre se disse; ter o ritual de tratamento do rosto com “mil produtos”; acordar depois das 10h e caminhar pela cidade; ir ou não ir naquele dia para o Centro de Dia; ir ao wc, mesmo que de lá tenha saído há cinco minutos; ter a diabetes controlada e ainda assim comer o que se gosta; fazer uma espécie de croché; viajar em sair do lugar, assistir diariamente à missa e participar nos cânticos, … 

Se fosse para fazermos com os outros como eu queria que fizessem comigo, cada um deles, e nós próprios, teríamos uma vida muito menos rica e muito menos feliz …

Outros artigos