Todas as pessoas reagem ao luto e à perda à sua maneira, independentemente da idade. Contudo, existem certos comportamentos e emoções expressos pelas crianças segundo a sua idade e grau de desenvolvimento. Mesmo que lide com crianças mais velhas, importa sempre compreender como olham e sentem a morte e a perda. Esperamos que esta informação ajude a perceber como, de modo geral, o luto pode afetar as crianças em cada fase do desenvolvimento.
Como reagem as crianças ao luto por fase do desenvolvimento
Idade 2-4
Etapa do desenvolvimento
Nesta idade, as crianças ainda não compreendem o conceito de que a morte é permanente e universal. A morte é percecionada como reversível, como abandono, não permanente. A criança pode exprimir as suas emoções através das brincadeiras ou de certos comportamentos e atitudes. Nesta fase, algo que desaparece do campo de visão, não desaparece verdadeiramente por isso, podem surgir perguntas como “O avô morreu? Quando volta para casa?”
Reação de luto
- Choro;
- Ansiedade;
- Repara mais atentamente nas alterações das rotinas;
- Faz perguntas constantemente;
- Fala a toda a gente sobre o ocorrido;
- Sinais de sofrimento;
- Alterações no padrão do sono e alimentação;
- Molhar a cama;
- Irritabilidade;
- Confusão.
Como ajudar?
- Dar respostas curtas e honestas, repetição frequente, muita tranquilidade e carinho;
- Manter a estabilidade nas rotinas do dia a dia para transmitir segurança;
- Estimular a criança expressar a sua dor através do brincar.
Idade 5-8
Etapa do desenvolvimento
Nesta idade, as crianças exploram a sua independência e começam a tentar fazer coisas sozinhas. São pensadores muito concretos, com tendência para fantasiar o mundo e acreditar na magia das coisas.
Conceito de morte
A morte é vista como reversível. Também podem pensar que a morte de alguém se deve aos seus pensamentos ou desejos. Nesta idade, as crianças podem ter pensamentos como “A culpa é minha. Estava zangado e desejei que morresse.”
Reação de luto
- Verbalização do sentimento de perda;
- Grande preocupação com o processo. Como? Porquê?;
- Perguntas repetitivas;
- Pode agir como se nada tivesse acontecido;
- Aflição e confusão gerais;
- Pesadelos, perturbação do sono e da alimentação;
- Possíveis brincadeiras violentas;
- Tentativas de assumir o papel da pessoa que morreu.
Como ajudar?
- Jogo simbólico usando desenhos e histórias que ajudem a criança a descobrir os seus próprios sentimentos e como está a lidar com eles;
- Permitir e encorajar a expressão da energia fisicamente;
- Falar delicadamente, mas abertamente, sobre o assunto, usando uma linguagem adaptada à fase do desenvolvimento da criança;
- Incentivar a criança em tarefas rotineiras com arrumar o quarto u participar em atividades com amigos.
Cada um de nós reage ao luto à sua maneira: o luto é um processo individual e muito particular e apenas quem passa por uma situação de perda pode avaliar o que ela significa e o quanto esse processo o magoa.
Idade 9-12
Etapa do desenvolvimento
Nesta idade, as crianças podem ter ainda pensamento concreto mas começam a perceber ideias abstratas como morte e perda. Podem começar a fazer ligações entre os amigos e atividades fora de casa. Este é um período de transição difícil, ainda querendo ver a morte como reversível, mas começando a vê-la como final.
Conceito de morte
Entre os 9 e os 12 anos, a maioria das crianças podem começar a compreender que a morte é um estado permanente e pensar como a perda de alguém os afeta neste momento e como as pode afetar no futuro. Algumas crianças podem focar-se no que vai acontecer com o corpo de alguém que faleceu. Sentimentos de culpa e de arrependimento podem levar a que interiorize que a responsabilidade do que aconteceu é sua. Podem pensar que “Se tivesse feito o meu trabalho de casa, a professora não tinha morrido.”
Reação de luto
- Perguntas específicas;
- Desejo de pormenores completos;
- Preocupação com a forma como os outros estão a reagir;
- Perguntar-se sobre a forma correta de reagir;
- Problemas na escola;
- Afastamento em relação aos amigos;
- Perturbações no sono e na alimentação;
- Preocupação esmagadora com o corpo;
- Pensamentos de morte (desejo de se juntar a quem morreu);
- Confusão acerca do seu papel.
Como ajudar?
- Responder a perguntas de forma honesta e sincera;
- Encorajar a expressão do alcance dos sentimentos;
- Explicar opções e permitir escolhas;
- Estar acessível mas permitir tempo sozinho;
- Jogos simbólicos;
- Permitir expressões físicas;
- Ouvir e permitir conversas acerca da morte.
Idade 13-18
Etapa do desenvolvimento
Os adolescentes são capazes de compreender e processar conceitos abstratos como a vida e a morte. Vêem-se como indivíduos únicos e independentes, com um papel próprio na família e com uma identidade única perante os outros, sejam os pais, familiares ou amigos. Por norma, os adolescentes procuram consolo nas pessoas em quem mais confiam ou com quem se sentem à vontade para expressar os seus sentimentos, sejam familiares, professores ou amigos.
Conceito de morte
Os adolescentes compreendem que a morte é definitiva. Secretamente, podem pensar que a pessoa está num sítio melhor, num mundo ainda de magia. Também podem mergulhar em perguntas sobre o significado da vida, da morte e de outros episódios traumáticos.
Reação de luto
- Tristeza extrema;
- Negação;
- Regressão;
- Mais frequentemente disposto a falar com pessoas fora da família e do apoio dos pares;
- Maior disponibilidade para correr riscos;
- Depressão;
- Ira muitas vezes dirigida aos pais;
- Pensamentos suicidas;
- Oposição;
- Rejeição de ensinamentos anteriores;
- Confusão de papéis.
Como ajudar?
- Encorajar a verbalização dos sentimentos;
- Permitir escolhas para que se sinta no controlo da situação;
- Encorajar a auto motivação;
- Ouvir;
- Estar disponível;
- Não tentar minimizar o sofrimento.
Bibliografia: DEVELOPMENTAL RESPONSES TO GRIEF, Dougy Center: The National Grief Center for Children & Families. Consultado em 21/12/2022 (Online)